domingo, 24 de abril de 2011

Sem Mérito

'Eu não tenho porque me importar' , ela repetiu para si mesma. Era a terceira vez que falava  isso em voz alta. Tentando se convencer de algo que no fundo sabia que era o contrário. Não estava causando o efeito que queria, e isso a deixava nervosa. A paisagem em sua frente fazia seus olhos se perderem. O sol enfim dava sua despedida silenciosa ao céu, deixando o mar em um tom cinza que acolhia qualquer pensamento. Apoiava-se na suas pernas, encolhida pelo frio daquele entardecer. A maquiagem da noite anterior ainda estava grudada nos olhos pouco abertos e a roupa de ontem cheirava a cigarro.
Precisava logo entender porque se sentia assim. Não sabia onde mais esconder-se dela mesma. Agora não tinha como negar a dor que interrompia todos os seus dias. Ela queria correr de alguém, só ainda não entendia de quem. Tantos lugares conhecidos, tantas pessoas queridas. Queria estar com todas elas, e ao mesmo tempo livrar-se de cada uma delas. O fato dela se apegar a qualquer um, não explicava a dor sentida naquele momento.
Desceu o olhar para a direita e viu um casal andando tranquilamente pela praia. Ameaçou um riso. Devia ser a única sentada na areia apreciando o pôr-do-sol. Nem ligou. Do mesmo modo que não ligava para suas roupas sujas e o banho não tomado. Não ligava para nada. 
Não conseguia ignorar o fato de que o medo arranhava seu estômago como uma faca. E que a dor do amor que sentia, estava deixando-a louca. Ela guardava tudo para não esquecer, apesar de procurar excluir varias lembranças para recuar a mágoa que restava do seu passado. ' Como consegui chegar tão abaixo ? ', se perguntou silenciosamente. Não sabia. Queria poder se livrar de tudo e seguir em frente sem mais confusões. Mas, não havia como. Estava procurando saídas onde não tinha, se encontrava na direcção contrária. Sempre errando o caminho. 
Ela procurava uma desculpa para sentir mais necessidade de fugir daquele lugar. Ninguém lhe dava essa desculpa, mas ela não cansava de procurar. 
Podia correr de qualquer um que a ameaçasse, podia tentar lutar com alguém que odiava. Todas as suas reacções sempre foram direccionadas a esse tipo de pessoas - os inimigos. Mas ela amava as pessoas que estavam-lhe machucando... Não restavam opções. Como conseguiria correr, como conseguiria lutar, quando fazer isso machucaria às pessoas que ama? 
O silêncio era extremo, já tinha escurecido. As estrelas brilhavam. Observou cada uma, analisando sua situação. Procurando a aqueles que possam agregar mais um pedaço no seu quebra-cabeças. Procurando-se a si mesma em cada um deles. Tratando de completar o que falta. Tratando de procurar respostas. Tratando de encher vazios.

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